sábado, junho 09, 2007
Docemente
Sinto a noite a descer docemente nas minhas costas. Os meus olhos descem com ela, bem abertos em lágrimas num movimento espiral que a cabeça executa agora de forma lenta como se o mesmo tivesse por demais vezes sido repetido. As palmas das mãos são os extremos dos ramos mais pesados que dançam em torno do tronco acompanhando-o uma última vez. Este maciço que roda e se afunda no pó negro abre nervuras que dispersam raios laminares de luz em tons aquecidos em melancolia. Sem pausas, sem abrandamentos a dança encerra no vazio, dilui-se no nada e só as folhas secas ainda formam uma última volta de sombras e ecos do que havia sido.

Convivo agora com memórias, algumas familiares, outras não. O meu ser espalha-se em recordações mais acesas ou intermitentes. Rio mais do que havia rido e não choro, mesmo quando me vejo triste. Eu sou ainda. Na minha pobre condição de ser o que fui para os que não me querem perder apesar de já terem perdido vou perdendo côr, perdendo o som da fala, perdendo as feições. Sem abrandamentos, sem pausas e com todo o tempo do mundo à minha frente a ternura do melhores momentos é a última a desvanecer...
 
embalado por Ricardo
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