sexta-feira, outubro 12, 2007
Por esta peça abençoados
Argola de secção hexagonal, em prata, adornada em relevos de plantas, flores e as iniciais de quem a recebeu, em outro tempo, ainda no mesmo espaço roda agora nas minhas mãos. Conhece bem o interior seco em madeira de uma gaveta aberta duas vezes ao dia. Conhece pior, mas mais intensamente o espaço livre, espaço aberto em toalha branca, de moldura rendada por mãos pacientes e prendadas. No topo da mesa rectangular, resta em posição previlegiada para as outras argolas avistar. É na meta de dez anos de casamento que a ordem para esta se fazer se dá . Dois dias depois, o artífice, rodeado de quatro paredes muito próximas, num espaço repleto de ferramentas, instrumentos da arte, maiores e menores presos às paredes, enceta a criação. Longas gavetas de madeira abertas e repletas de centenas de pequenas peças metálicas aconchegam ainda mais o cubículo. Um papel amachucado, com o desenho da encomenda, treme em cima da mesa ao ar largado de uma ventoinha deitada no tecto. Sons secos de trabalho desfazem-se nas paredes de tabique. De duas peças esculpidas, uma é eleita e o molde nasce desta preparado para a prata liquefeita acolher no seu ventre. Começa então, num calor de fumo, a escorrer livre, em fio grosso, a prata na direcção do berço dessa nova forma. E acabada a secagem em objecto duro, o molde é desfeito. Perante esperada imperfeição e palidez de côr , muito trabalho de rectificação, aperfeiçoamento e polimento sobram na necessidade de acabar. E então, dois mais dois dias depois numa pequena caixa azul turquesa de papel aveludado, numa entrega em toque meigo de mãos aflorado, na pressa de um beijo demorado, as iniciais em alto relevo encontravam a sua correspondente dona. Os seus guarda-napos jamais passariam incógnitos ou esquecidos. Hoje são os meus por esta peça abençoados.
 
embalado por Ricardo
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