domingo, dezembro 24, 2006
Sem Sentido (II)
O cigarro fumava-o, de forma despreocupada. SG ventil a meio filtro. E ele alinhava na tramóia, deixando-se envolver pelo fumo. Gostava de dançar no seu som e de nele se intrometer.
Entretido neste diálogo com o vício, demorava-se à porta do edifício. Balançava em redor da sineta, não tendo ainda definido o melhor momento para a fazer soar. Entretanto, desgastava-se no fumo.
Convinha-lhe um contratempo dessa dimensão, 5 a 6 minutos. É que ainda lhe faltavam palavras, por certo para dar sequência à cena, depois do soar estridente do engenho eléctrico que, no quadro à sua frente, marcava 4º piso.
Voltou a olhar-se e confirmou a sensação de estar ainda descalço. O problema é que agora já nem sentia os pés...
E foi nesta sua própria incompreensão que tomou a decisão: não se fazer sentir no prédio. Apagou o cigarro e percebeu-se melhor: descalço, sem pés e sem palavras.
Era altura de começar a fingir que vivia.

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embalado por Nuno
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