sábado, dezembro 09, 2006
tesouras e tafetás
Éramos seis ou sete e esperávamos em fila.
Á nossa frente um homem empenhado desenrolava tecidos diversos, marcava distâncias pelo balcão tabelado e com longas tesouras cintilantes retalhava os panos contemplados.
Atendia um a um com a rectidão de antigamente e a espera era amenizada com o espectáculo do trabalho célere, quase mecânico pausado com as interrogações amáveis de quem prezava o seu ofício e os seus clientes. “Esta côr agrada-lhe? Sente o toque? Creia-me que é o melhor que temos de momento.Não concorda que sai de cá bem servido?”
Éramos seis ou sete já imbuídos no mundo deste homem quando subitamente nos interromperam.
Tesouradas e tafetás esfumaram-se no ar com o guincho da travagem.O céu reapareceu e as cores retornaram à sua dureza. Focamos a porta do autocarro enquanto esta se abria e empunhamos a senha por picar. Iniciamos viagem agora em direcções diferentes e a paragem do hospital psiquiátrico Conde Ferreira mirrava uma vez mais à sua realidade.
 
embalado por Ricardo
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