sábado, março 24, 2007
Vazio
De travo fundo,
De sopro vivo,
De azul imenso...

De corpo cheio,
De viva voz,
De pele sobre pele...

E de tempo,
E de timbre.

De ti.
 
embalado por Nuno
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sexta-feira, março 23, 2007
Da cozinha para o quintal
São três degraus que vão da cozinha para o quintal
Numa passagem estreita se passa duma zona obscura para a claridade do dia
Faz-se isto num gesto, num momento, quase imperceptível e sem peso no tempo
O ombro direito arranca a subida e as pernas repetem o movimento
A roupa algo murmura tantas vezes como os degraus
Terra e japoneiras são cheiros que vagueiam e sucedem ao da marmelada acabada de fazer
Pousam em mim raios de sol que da folhagem ondulante se conseguem esgueirar
E os olhos focam distâncias que vão de paredes próximas a cores floridas ao largo
Por um sonho, este instante surge prolongado
Em movimento arrastado, preso em lentidão
Ansiedade e medo envoltos de neblina criando imagens em turbilhão
Dez cavalos de nevoeiro cavalgam a meu lado nesta ascensão

O sentido inverso está no entanto de sonhos e memórias apagado
Ir lá para fora sempre foi mais apelativo, ainda por cima lambuzado
 
embalado por Ricardo
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domingo, março 18, 2007
Dia de coca-cola
Ainda sem, do correr do tempo, a noção, ia eu de galochas para a preparatória, a assobiar, a balouçar, quinze minutos a dar á perna e a comer chicletes.
Um edifício descartável, provisório, implantado num lamaçal esperava-me e a muitos outros para dias de nariz perturbado, disposição agoniada. Uma fábrica de transformação de ossos, de muros gigantes em granito escurecido ladeava a nossa escola de cartão..
O resto da envolvente era não mais do que terrenos baldios, riachos raquíticos e histórias de perigo e aventuras. No interior das vedações, o chão em terra dissolvida em água dispunha a oportunidade do jogo do berlinde, corridas aos trambolhões, revelava sapos cuja sorte seria a de fumar até á morte e garantia um regresso a casa salpicado de sujidade.
Era já de tarde quando numa estrada perto de nós um gigante tombava. O sucedido foi divulgado no imediato e a escola ficou, por momentos, deserta. O gigante, imóvel, em instantes viu-se acossado por uma multidão de miudagem de galochas às cores que trepava ao seu flanco para da sua carga xarópica o despojar. Os adultos presentes, sem alternativa, presto se deixaram de interpôr. O gigante, ponto a ponto e num ápice, viu a sua côr clarear. Nova torrente de gente pequena agora de braços pesados , de regresso naquele fim de tarde se formou.
Foi mesmo o dia em que, ao longo de dois anos, se viu mais, e tantos sorrisos, traquinas alguns , presentes nas faces dos cachopos. A um refrescante tombar do camião com o pai natal, vestido de vermelho, se ficou tal dia de saque e brilho de alegria a dever.
 
embalado por Ricardo
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